sábado, 8 de dezembro de 2007

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Cultos afro-brasileiros


A resistência uma cultura que luta para deixar as senzalas.

Durante os trezentos e cinqüenta anos de tráfico de escravos, os quatro milhões de africanos trazidos para o Brasil e destinados ao duro trabalho nas lavouras, não trouxeram apenas a sua força que ajudou a desenvolver o país, mas também as suas crenças, tradições e costumes que influenciaram profundamente a formação da cultura popular brasileira.
Subsistindo durante séculos de exclusão étnica e social, as manifestações religiosas dos negros tinham que ser realizadas secretamente nas senzalas, sempre na calada da noite, longe dos olhos dos seus Senhores. Estes negros, na sua maioria sudaneses, bantos, jejês e haussas, tinham crenças diferentes, apesar de terem em comum a fé em um só Deus criador, Olodumare, e nas forças da natureza.
Da grande mistura de grupos raciais africanos e como conseqüência do silencioso esforço investido pelos negros para não deixarem morrer sua cultura e suas crenças, uma harmoniosa mistura de crenças e ritos africanos deram origem ao que conhecemos hoje como Candomblé, uma recriação brasileira da religiosidade africana.
Esta religião de milhares de brasileiros que ainda luta para deixar de vez as senzalas, ganha aos poucos a atenção de pesquisadores, acadêmicos e da mídia. Mais a resistente crença dos negros só começou a aparecer para a sociedade quando grandes artistas brasileiros como Gal, Caetano e Bethânia – filhos da Bahia e de Menininha, cantaram os deuses africanos e a sua mais festejada sacerdotisa, a Mãe Menininha do Gantois. As cantigas e as saudações dos orixás também estiveram na boca de Clara Nunes, Clementina de Jesus e Martinho da Vila. E foi assim, através da música, que os nomes de Yemanjá, Oxalá e outras divindades ficaram conhecidas entre nós.
O Candomblé sobreviveu a séculos de proibições porque não foi difícil para os negros adotarem, como disfarce, os santos católicos em sincretismo com os orixás africanos. Em meio a muita discriminação, opressão e sobretudo segredo que a religiosidade afro-descendente resistiu a repressão até o fim formal da escravidão. Entretanto os cultos negros ainda foi caso de policia no Brasil até primeira metade do século passado, envolto em todos os preconceitos que uma religião “de negros” podia carregar, os praticantes eram presos acusados de feitiçaria, os terreiros eram fechados e as representações das divindades profanadas. Reuniões de negros eram proibidas, pois se temiam motins contra os brancos. Impossível esquecer também a evangelização forçada de milhares de negros.
Tudo isso serviu para criar o mistério, o medo e a incompreensão que até hoje cercam o candomblé, suas ramificações como a Umbanda e os cultos de matrizes africanas em geral.
Começava a luta do povo-de-santo pela visibilidade e preservação de suas crenças e ao mesmo tempo, uma mobilização dos seus seguidores contra o preconceito e a discriminação.
O povo-do-axé se juntou, se organizou e ganhou força, o Candomblé já havia se espalhado pelo Brasil e, em 1973, já era iniciado o primeiro sacerdote na nossa região: Oba Kembê. Para dar maior voz a causa, surgiram necessárias associações e grupos dispostos a erguer a bandeira das religiões afro. Dentre as Ongs existentes, a FIUTCAB (Federação Interestadual União das Tradições e Cultura Afro Brasileira) tem sido uma presença nova e dinâmica na defesa desta vasta cultura.
Fundada há doze anos pelo pioneiro sacerdote Walter Alves de Oliveira, tem sede em Várzea Paulista e congrega mais de quarenta terreiros na região de Jundiaí e tem associados na capital e no interior de Minas Gerais. A organização já promoveu congressos estaduais, debates e mesas abertas com a participação de sacerdotes, antropólogos e estudiosos renomados, nas cidades de Jundiaí e Várzea Pta.
A disposição dos voluntários (a entidade não tem fins lucrativos) da Federação já produz bons frutos no objetivo de chamar a atenção da sociedade e incentivá-la a refletir sobre a intolerância que representa uma das faces mais terríveis do racismo brasileiro.
A Constituição Federal assegura a liberdade de crença, mais muito além disso, é preciso incentivar as políticas de ações afirmativas que assegurem a erradicação total de toda forma de descriminação, seja social, racial, de gênero ou religiosa. Ações que contribuem para concretização de uma sociedade onde as minorias são respeitadas e as diferenças superadas.

Rafael Vertuan

Campanha FIUTCAB 2007
Publicado no Jornal Sou + Jundiaí - SP
Edição 13 Ano 1
Foto 1 - Roda de Candomblé - Vila Aparecida
Foto 2 - Lázaro Aparecido Pinto de Camargo (Obá Kembê)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Mestres reencarnados só com aval do governo!

PEQUIM (AFP) - Toda reencarnação de Buda tibetano vivo deverá ter o aval oficial do governo chinês e de seu gabinete para Assuntos Religiosos para ser válida, anunciou nesta sexta-feira a agência de notícias Nova China.
As novas regras entrarão em vigor no dia 1o de setembro, marcando "uma etapa importante para institucionalizar a gestão das reincarnações de Budas vivos", explicou a agência oficial.
De acordo com estas regras, apenas os templos de budismo tibetano creditados pelas autoridades comunistas terão o direito de solicitar o reconhecimento de uma reencarnação.
Os Budas ("despertados") vivos são um elemento importante do budismo tibetano, grupo de monges eméritos, que supostamente reencarnam. Vários candidatos estão na fila para serem escolhidos.
Pequim pretende manter um rigoroso controle dos assuntos religiosos, principalmente nesta região. As autoridades chinesas haviam recusado em 1995 a escolha pelo dalai lama, líder tibetano no exílio na Índia, da reencarnação do panchen lama, número dois na hierarquia do budismo tibetano.
Retirado de sua casa pelas autoridades, o 11o panchen lama, uma criança de seis anos, nunca mais foi visto.
Pequim escolheu seu próprio panchen lama, que realizou no ano passado uma aparição internacional em ocasião de um "Foro de Budismo Mundial" em Hangzhou, leste da China.
A China que afirma que o Tibet faz parte de seu território desde o 13o século, havia "libertado" esta região em 1951. Em 1959, após uma rebelião frustrada, o Dalai Lama escolheu estabelecer um governo no exílio na Índia, em Dharamsala.

(Fonte Yahoo Notícias)


Foto : 1 - O Décimo Primeiro Panchen Lama oficial do Governo Chinês

2 - O Décimo Panchen Lama e Mao Tse Tung

Amma - a santa do abraço!


Amma deixa hoje nosso país onde abraçou milhares de brasileiros no Rio de Janeiro, que continua lindo!(apesar de...) Amma Aquele Abraço!!!!!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Hoje é o centenário de Frida Khalo


Frida Khalo, pintora mexicana nasceu em 06 de Julho de 1907, em 1910 contraiu poliomilelite, sendo esta a primeira de uma série de enfermidades, acidentes, lesões e operações que sofre ao longo de sua vida. A poliomielite deixa uma lesão em seu pé direito com isso, ganha um apelido "Peg-leg Frida". A partir disso ela começa a usar calças, depois, longas e exóticas saias, que Conheceu seu amor no Partido Comunista Mexicano, o pintor Diego Rivera

"Acreditavam que eu era surrealista, mas não o era. Nunca pintei meus sonhos. Pintei minha própria realidade".


Em 1939 expõe em Paris na galeria Renón et Colle. A partir de 1943 dá aulas na escola La Esmeralda, no D.F. (México).
Em 1953 a Galeria de Arte Contemporânea desta mesma cidade organiza uma importante exposição em sua honra.
Alguns de seus primeiros trabalhos incluem o "Auto-retrato em um vestido de veludo" (1926), "retrato de Miguel N. Lira" (1927), "retrato de Alicia Galant" (1927) e "retrato de minha irmã Christina" (1928).
Quatro anos após a sua morte, sua casa familiar conhecida como "Casa Azul" transforma-se no Museu Frida Kahlo.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Plantas de Poder na Cultura Religiosa do Brasil

O divino se manifesta pelos Enteógenos

Enteógeno é um termo criado por estudiosos ingleses no ano de 1973 que indica substâncias alteradoras da consciência. Em nossa sociedade os enteógenos são popularmente conhecidos pelo nome de alucinógenos. A presença de substâncias enteógenas provoca em quem a toma estados de transe, êxtase ou possessão, conforme observados nas antigas culturas xamânicas. Esta palavra grega significa literalmente: "manifestação interior do divino" provocada pelo poder de algumas drogas visionárias. O termo “Plantas de Poder” foi adotado pelos grupos religiosos, como o Santo Daime, para indicar estas substâncias .
Os enteógenos são utilizados por muitos grupos étnicos ao redor do mundo. Alguns exemplos são o cogumelo Amanita Muscaria,usados no México, Guatemala e Amazonas em rituais religiosos e por curandeiros. A erva Salvia Divinorum utilizadas pelos índios Mazatecas mexicanos. E o cacto Peiote, que brota em desertos dos Estados Unidos e do México, é utilizado pelos índios norte-americanos e por grupos neo-xamanicos, como a Igreja Nativa Americana. O movimento conhecido como contracultura enteógena popularizou o consumo de substancias psicoativas e estimulou o turismo enteógeno, ou seja, a busca da matéria prima, tanto em seu habitat natural – geralmente a floresta, como a realização de intercambio destas substâncias entre os que “consagram” as plantas de poder.
Há centenas de anos, os índios habitantes do Brasil utilizam as ervas e as árvores em seus cultos religiosos. Entre as centenas de plantas de poder, duas beberagens figuram constantemente no universo religioso dos enteógenos que saíram das aldeias e invadiram os espaços urbanos : A Jurema e a Ayahuasca ou Santo Daime.
Jurema é o nome popular da árvore Mimosa hostilis e também usado para se referir à bebida ritualística feita com a casca da árvore juntamente com outras substâncias secretas, tidas como Fundamento (segredo) entre os juremeiros. Jurema também é o nome genérico de várias árvores da mesma família da Mimosa hostilis, conhecidas popularmente como família das Acácias. As religiões que cultuam estas árvores são também chamadas de Jurema. No candomblé de caboclo e na umbanda, Jurema é uma Cabocla de pena (índia) que incorpora em seus médiuns e orienta seus filhos com sua sabedoria.
Santo Daime é um dos nomes brasileiro da bebida Ayahuasca, feita com duas plantas encontradas abundantemente na floresta amazônica: o cipó Marirí ou Jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha da árvore Chacrona ou Rainha (Psychotria viridis). A principal substância psicoativa encontrada nestes dois “sacramentos” utilizados em comunidades espirituais no Brasil é a DMT (Dimetiltriptamina) há um grande número de estudos realizados por médicos e pesquisadores sobre os efeitos da DMT no organismo humano que podem ser encontradas em institutos especializados como o Conselho Nacional Anti-drogas e também em ONGS vinculadas a igrejas que se utilizam e estudam a substância como o Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (CEFLURIS).

(Esta é a introdução do livro que começei a escrever mais ainda não está finalizado)

Foto 1 - Céu de Maria- © arquivo do autor
Foto 2 -Mestre Irineu (Oxalá) © Clancy Cavnar. All rights reserved.
Foto 3 - Catimbó Jurema (?)

domingo, 1 de julho de 2007

Paulo Freire


"mãos de homens e de povos que se estendam menos em gestos de súplica, e se vão fazendo cada vez mais, mãos humanas que transformam o mundo."


Paulo Freire

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O Sábio Ignorante do Japão


" O conteúdo histórico do nome “gutoku Shinran”, revela muito do seu significado. Shinran foi um dos principais discípulos de Honen, fundador da Escola da Terra Pura. Ele estudou com Honen em Kyoto por um período de cinco a seis anos, até a perseguição da linhagem da Terra Pura em 1207, quando foi exilado para a remota província de Echigo. Foi durante este período que começou a usar o nome “gutoku Shinran”, indicando que foi lá na costa marítima de Echigo, não em Kyoto, que ele mergulhou pela primeira vez na sua verdadeira natureza.
Ele considerava-se, “nem monge nem leigo”, pois devido ao banimento, foi privado pelo governo de sua dignidade sacerdotal e ao mesmo tempo não tinha meios de viver como um leigo comum. O despertar encontrado dentro do seu verdadeiro eu, surgiu nessas circunstâncias. Não era uma questão limitada, individual. Através desse despertar, Shinran adquiriu um profundo entendimento do mundo real, o mundo do qual ele fazia parte e no qual as pessoas vivem, interagem e se esforçam para sobreviver. Esse entendimento está cristalizado no seu nome.
O entendimento de Shinran acerca deste concreto mundo, do dia-a-dia, está expresso na seguinte passagem do Tannisho, que descreve as pessoas entre as quais ele vivia:



Aqueles que ganham a vida jogando redes no oceano ou pescando nos rios.Aqueles que sustentam-se matando javalis e pegando pássaros nas terras áridas e nas montanhas .Aqueles que passam suas vidas ocupados no trabalho ou cultivando a terra.

Os quatro tipos de pessoas aqui citadas são os pescadores, caçadores, mercadores e lavradores, na verdade pessoas oprimidas vivendo suas existências como escravos, trabalhando o solo. Todas estas pessoas eram tidas em baixa estima por aqueles situados em posições mais privilegiadas. Sobre suas pobres e sofridas existências, Shinran entendeu que : “Se tais foram as nossas condições cármicas, nada há que possamos fazer”. Nesta parte do Tannisho, Shinran está discutindo a igualdade de todos os homens. Por que ele escolhe mencionar esse povo da mais baixa camada social, para discutir tal assunto? Penso que a resposta a esta pergunta, está indiretamente embutida na sua escolha pelo nome “gutoku Shinran”.
As pessoas sempre falam acerca da igualdade, debatendo os seus vários aspectos. O que é mais importante põem, é onde essas pessoas se colocam quando discutem este problema – para a igualdade significar alguma coisa, ela deve ser examinada de uma posição definitivamente transparente. Shinran não diz simplesmente que todos os homens são iguais; uma abstração tão vaga assim é sem sentido. A igualdade da qual Shinran falou, foi a palpável e sensível igualdade que ele descobriu na vida que teve entre pescadores, caçadores, mercadores e lavradores.

Além disso, algo mais forte e mais positivo do que uma simples simpatia por essas pessoas oprimidas está por trás da afirmação de Shinran. Vivendo no meio de pessoas da mais baixa camada social, Shinran foi estimulado a reavaliar criticamente os valores do Budismo tradicional, ou seja, o Budismo anterior ao Mestre Honen.
O Budismo tradicional nos diz que nascemos como seres humanos, por termos obedecido aos preceitos budistas em nossas vidas anteriores e assim deveríamos continuar vivendo estes preceitos igualmente nesta vida. Os preceitos budistas: não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir e não usar tóxicos – é claro, são extremamente importantes.
Porém, o que Shinran percebeu na sua vida entre as pessoas comuns de Echigo, foi que se a observação destes preceitos era pré-requisito para a vida budista, então o Budismo poderia tornar-se sem significado na vida dos homens e mulheres comuns. O meio de vida dos pescadores e caçadores era destruir a vida; as atividades dos mercadores, quase inevitavelmente, implicavam numa certa dose de má fé, isto é, implicavam quase num tipo de roubo. O grupo de lavradores estava um pouco melhor. No sistema feudal da época de Shinran, os lavradores eram exatamente a força humana, que trabalhava os campos dos proprietários de terras. Era paralelamente considerado roubo se eles se apoderassem de uma parte da colheita para uso próprio. A situação tornava-se ainda pior, pelo fato de que o proprietário da terra era quase sempre um poderoso templo budista ou um santuário shintoísta: manter consigo algo deles era o equivalente a roubá-los.
Assim, o povo comum da época de Shinran era virtualmente forçado a violar os preceitos para sobreviver. Isso deve ter levado Shinran a reexaminar os valores do Budismo tradicional. Eram essas pessoas menos humanas por terem violado os preceitos budistas para sobreviver? As reflexões profundas de Shinran o levaram à conclusão de que, longe de serem menos humanos que outros, tais pessoas eram realmente o povo que vivia a vida como ela tinha que ser vivida, no mundo real. As classes mais abastadas – os protetores e os seguidores do Budismo tradicional que tinham as pessoas comuns com desprezo – eram as classes que estavam alienadas da realidade, pois viviam afastadas do trabalho opressivo das pessoas pobres. Se as pessoas comuns fossem excluídas da salvação, talvez fosse melhor abandonar o Budismo – pensou ele.
Portanto, Shinran percebeu que tal visão do Budismo era deturpada.

Com este reconhecimento, Shinran afirmou a absoluta igualdade de toda humanidade, dentro da Lei do Condicionamento Cármico, expressando esta compreensão na frase mencionada anteriormente: “Se nossas condições cármicas foram tais, nada há a ser feito”.
Essa profunda verdade, além da compreensão humana, é a fonte de origem da igualdade básica do homem. Quando despertamos para essa igualdade e para nossa verdadeira natureza como seres humanos, então as amarras e estruturas do sistema social são transformadas e nós nascemos para uma vida na qual todos os seres humanos e todos os seres vivos existem numa harmonia mutuamente sustentada. Qualquer Ensinamento que não esteja apto a guiar os seres humanos para esta realidade da vida, não pode ser chamado Budismo.
Shinran lidou em termos indubitáveis, com a questão da natureza humana e do legado do verdadeiro Budismo.A compreensão profunda de Shinran sobre esses assuntos é o que se encontra sob seu Ensinamento dos anos posteriores.
Com relação à natureza humana, uma coisa foi totalmente óbvia para Shinran: todos os seres humanos são seres profanos prisioneiros das suas paixões mundanas. O que Shinran quer dizer aqui é que as pessoas são simplesmente pessoas, nada mais, nada menos. Várias passagens do Tannisho esclarecem o que Shinran quer dizer.
A natureza do “homem comum” está determinada pela natureza das condições cármicas. Como mencionamos antes, a expressão “Se nossas condições cármicas foram tais ou quais, não há nada que possa ser feito”, indica que os fatos que surgem na nossa vida estão além do nosso controle ou entendimento.

Somos todos pessoas comuns. Isto significa que somos preenchidos por desejos que brotam da nossa ignorância. Nossas mentes exibem várias formas de paixões como frustração, raiva, ciúme e rancor. Esses sentimentos maus sempre nos atormentam. Eles nunca cessam, nem por um momento sequer, até morrermos.

Não temos escolha, a não ser viver de acordo com nossas condições cármicas. E ainda por causa delas, não temos escolha, a não ser experimentar o sofrimento contínuo.
Shinran considerou essa situação como o inevitável destino do homem. Tal é a sensível realidade da condição humana e é por isso que ele se auto-denominou “Néscio”. A tolice a qual Shinran se refere, não é falta de inteligência ou estupidez. Com a palavra “Néscio”, Shinran quer dizer que somos ignorantes, completamente ignorantes, ao olharmos para nós mesmos e para a nossa própria humanidade. Nada poderia ser mais tolo do que uma existência cega em relação a nós mesmos. No entanto, é exatamente esse eu néscio, o eu ao qual nada foi acrescentado ou retirado, que o Budismo se propõe a salvar.
Shinran queria simbolizar, com o uso do “Tonsurado” no seu nome, a percepção dessa verdade básica budista. Essa palavra toku significa o status de Shinran, de “nem monge, nem leigo”. Nesta frase “nem monge, nem leigo”, Shinran resumiu sua profunda convicção sobre a natureza do Budismo. “Nem monge” refere-se ao fato de que o caminho não é algo limitado somente a alguns poucos elitizados que vivem um determinado estilo de vida, isto é, os monges budistas. O caminho deve ser acessível a todos. “Nem leigo” significa que o homem não está espiritualmente satisfeito com uma vida sem significado, uma vida na qual ele não faz nada mais do que comer, dormir, morrer."



O caminho do discípulo

Takashi Hirose

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Adé - O papel dos gêneros


Adé:

O papel dos gêneros na formação do candomblé contemporâneo

Rafael Vertuan, Bacharel em Comunicação Social /Jornalismo.

Resumo: O objetivo deste trabalho é apontar os papeis dos gêneros sexuais para a formação atual do culto de origem africana conhecido como candomblé. A cultura religiosa dos antigos escravos negros abriga todos os gêneros sexuais (Homens, Mulheres, Homossexuais, Travestis e Transgêneros) e a homossexualidade não é considerada “pecado” tal como nas religiões de origem judaico-cristãs. Esta ausência de dogmas, no tocante a sexualidade faz com que o culto sofra um influxo grande de homossexuais e transgeneros. Nos terreiros de Candomblé todos têm oportunidade de conquistar respeito e status social dentro da hierarquia do culto. A metodologia utilizada para realizar este trabalho foi pesquisa bibliográfica e trabalho de campo em diversos terreiros da região de Jundiaí, São Paulo, durante o período de março de 2003 a janeiro de 2006.

Palavras-chave : Candomblé, Cultura Afro-brasileira, Homossexualidade, Gêneros.

Panorama histórico dos estudos sobre homossexualidade e candomblé

Ruth Landes, antropóloga norte-americana, foi a primeira a estudar e publicar artigos sobre a homossexualidade masculina e o candomblé. Como resultado de sua pesquisa de campo na década de 30 na Bahia, publicou o artigo "A cult matriarchate and male homosexuality" publicado no Journal of Abnormal and Social Psychology em 1940 e o livro "Cidade das Mulheres". Posteriormente, as pesquisas de Ruth Landes foram contestadas por outros antropólogos como Ramos e Herskovits, que consideravam o trabalho de Landes vago e a isolaram na periferia da Antropologia.
Roger Bastide, reconhecido como uma autoridade no assunto dos cultos afro, escreveu sobre a homossexualidade em 1961, considerando-a como "caso patológico" nos cultos da Bahia.
Arthur Ramos escreve em 1942 o artigo "Pesquisas estrangeiras sobre o negro brasileiro", expressando uma opinião semelhante a de Bastide.
Em 1969, René Ribeiro publicou um ensaio chamado "Personality and the psichosexual adjustment of Afro-brasilian cult members" no Journal de la Société des Americanistes, com o objetivo de estudar os cultos afro no Recife, deparando-se com a presença massiva de homossexuais.
Em 1966, Herskovits publica "The social organization of the Candomblé" na revista New World Negro nos Estados Unidos, onde fala superficialmente sobre o tema.
Peter Fry escreve em 1982 o artigo "Homossexualidade e cultos afro-brasileiros", onde revê toda a literatura sobre a homossexualidade e cultos de possessão afro-brasileiros.
Vagner Gonçalves da Silva e Raul Lody escrevem sobre a homossexualidade contando a história da vida do Pai-de-santo Joãozinho da Goméia no seu artigo "Joãozinho da Goméia- o lúdico e o sagrado na exaltação do Candomblé" em 2002.

A raiz matriarcal do candomblé brasileiro

Desde a instalação dos primeiros terreiros de candomblé, criou-se uma tradição matriarcal dentro do culto.
No inicio do século XIX foi estabelecida a mais antiga casa de candomblé do Brasil fundada por três princesas africanas escravizadas e libertadas, Iyá Nassô, Iyá Kalá e Iyá Detá que fundaram o Ilê Iyá Nassô Oká, conhecido como Casa Branca do Engenho Velho.
Com a difusão do candomblé na cidade de Salvador, Bahia, outros terreiros se estabeleceram, sempre sob a direção das mães de santo, como o Ilê Mariolajê (terreiro do Alaketu), Associação Igbé São Jorge do Gantóis e o Ilê Axé Apô Afonjá.
Segundo os historiadores existem dois motivos principais que explicam a causa do matriarcado nos cultos de matrizes africanas, uma dessas teses é sustenta que a mulher poderia dedicar-se mais a religião. Nas sociedades africanas, berço do candomblé, o poder político e religioso era do homem. No Brasil houve uma troca de poder entre os sexos. A mulher escrava foi alforriada antes do homem e com essa liberdade teria mais tempo de cuidar dos assuntos espirituais. “É mais fácil sustentar uma mulher na casa de culto do que retirar um homem do trabalho produtivo, durante meses, para este fim” (Verger, 1989:125).
O segundo motivo é de ordem espiritual é, segundo as mães de santo entrevistadas pela antropóloga Ruth Landes, uma antiga tradição africana: “A tradição africana diz grosseiramente que nos cultos somente as mulheres são apropriadas, devido ao seu sexo, para cuidar das divindades e que o serviço do homem é blasfemante e assexuado” (LANDES, 1940:388).
Atualmente alguns terreiros ainda mantêm a tradição matriarcal. Os terreiros mais famosos do pais estão nas mãos de mulheres e devem continuar assim por muito tempo. Alguns como Apô Afonjá, fundado em 1910, em Salvador, têm em seu estatuto uma clausula proibindo qualquer homem de sentar-se ao trono. Nestes terreiros, o poder da Mãe-de-santo é absoluto, ela é a primeira a entrar no terreiro. Fica sentada, um privilégio alto clero do candomblé e todos os filhos e agregados se abaixam. Só ela pode jogar búzios, aconselhar fieis e intermediar a relação entre os deuses e seus filhos.
O matriarcado foi perdendo sua força com a fomentação do candomblé e sua disseminação pelo país, sobretudo pela criação de um novo culto chamado “Candomblé de Caboclo”. Segundo Landes, “os homens somente começam a surgir como pais-de-santo na Bahia ”depois de uma geração“, com o nascimento de uma nova forma de culto, o candomblé de caboclo” (Fry,1982:59).
Os terreiros Axé Apô Afonjá, Gantóis e Alaketu se tornaram um clã cujo poder é passado de mãe para filha. As atuais líderes destes terreiros são Maria Stela de Azeved (Odé Kaiodê)o, a Mãe Stella do Apô Afonjá, herdeira de Mãe Ondina, Mãe Creusa de Nanã, herdeira e filha de sangue de Mãe Menininha do Gantóis e Mãe Olga do Alaketu, descendente de um ramo da família real da cidade de Ketu, na África.

O papel do homem no antigo candomblé

A principal função do homem no antigo candomblé era o cargo de ogã, o responsáveis principalmente por dois atos religiosos dentro do terreiro: tocar os atabaques e fazer os sacrifícios de animais
Os ogãns eram geralmente escolhidos entre pessoas de alto poder aquisitivo ou de elevado estatus social, tendo também a função de zelar economicamente pelo terreiro e cuidar das boas relações da casa com as instituições policiais e religiosas.
Os homens não podiam tomar parte do ritual de incorporação (transe de possesão), quando isso acontecia ele rapidamente era retirado do recinto e chamado a retornar a sua consciência normal. Um relato de Ruth Landes ilustra o modo em que os homens eram tratados no candomblé nesta época:

Certa mãe nagô hesita antes de “fazer” homens, mesmo após haverem caído no transe ritual durante o qual dançam possuídos por um deus que neles penetrou e transmitem, na sua voz, a mensagem divina. Ela os submete às provas tradicionais do fogo e do óleo fervente , como o faz com as mulheres sob suspeitas de fingimento.
"Vi, certa vez, uma mãe expulsar um jovem que habitualmente caía em transe e mandar pregar este aviso no poste central da sala de cerimônias: “Pede-se aos cavalheiros o favor de não perturbar os ritos nem dançar nos espaços reservados às mulheres”. E “mulheres” eram as sacerdotisas
(Landes 1964:323).

O “fazer” refere-se a iniciação pelo qual os adeptos do candomblé têm de passar para serem considerados um filho ou filha de santo.
Com a modernização do candomblé, o Ogã conquistou um novo espaço no rito. Passou a exercer também a função de Ogã de Sala, no qual é responsável por conduzir o Orixá no período em que dança na roda-de-santo, na utilização das vestimentas rituais e na entoação das cantigas de louvor aos orixás.
O Ogã é altamente respeitado por todos os praticantes do candomblé, sendo chamado também de “Pai” pelos adeptos.
Outra função do homem no antigo candomblé era a de “babalaô” ou adivinhos, segundo Ruth Landes:
Os cultos nagô, antigamente, tinham ligações com certos homens que praticavam a adivinhação e a feitiçaria, mas não eram chefes de culto. Um ou dois velhos ainda vivem na Bahia e são chamados babalaos. Eram consultados por toda a população candomblés inclusive, embora a feitiçaria seja proibida na Bahia.
O babalao é tão exaltado quanto a mãe e pode ter sido, outrora, em vista da suas habilidades de feiticeiro, ainda mais poderoso. Quando um babalao comparece hoje, a uma cerimônia de culto, é recebido com profundas reverencias e beija a mão, a mãe o faz sentar-se á sua direita e o chama de “irmão”, e enquanto as filhas o chamam de “tio”. Pode dançar durante os toques honoríficos que os atabaques dedicam, mas dança desperto e sozinho. Quando se sente perigosamente próximo a ceder a possessão, o que pode acontecer quando muitas das canções do seu deus são tocadas e cantadas, foge do local, temendo profanar os mistérios e emascular-se. O babalao é agora uma instituição moribunda e os dois velhos da Bahia não conseguem atrair novos adeptos” (Landes 1947:323)

Os dois “velhos” referidos no texto são: Martiniano do Bonfim e Felisberto Sowzer, ambos já falecidos.
Em casos muito raros no passado, homens foram chefes de cultos nagô, mas proibiram os sacerdotes do sexo masculino de dançar com as mulheres ou de dançar ao publico quando possuídos. Comparado com as mulheres, eram parcialmente iniciados e tolerados pela comunidade religiosa. Na “boca pequena” estes sacerdotes eram chamados de “maricas” pelas mulheres enciumadas, dando origem a atritos que fizeram surgir novas casas e pequenas variações ritualísticas.
O principal rompimento do candomblé de origem nagô foi a instalação do candomblé de caboclo, com profundas influências bantas, que eram vistas como “impuras” pelos nagôs.

A queda do matriarcado e a presença de homossexuais no candomblé

Pela difusão do candomblé no país surgiram novos cultos de influencias Banto, misturando o culto aos inquices (o correspondente a Orixá na língua banto) e a pratica de cultuar os ancestrais e antigos donos de terras: o Candomblé de Caboclo. Esta vertente do candomblé tradicional é conhecida por ser mais flexível nas rígidas regras que regem os cultos de matrizes africanas. Já no início de seu desenvolvimento,este fato foi observado, na Bahia, por antropólogos que estudavam os efeitos da diáspora africana. "Os cultos caboclos relaxaram grandemente as restrições que cercam as mães" (Landes, 1947:325). Nesse novo culto, os homens, até então excluídos das rodas de santo puderam começar a praticar o sacerdócio. "O seu afastamento mais radical da tradição Nagô, é que os homens podem tornar-se chefes dos cultos de caboclo. Nos seus ritos, os homens se abandonam, como mulheres, a tremores e suspiros antes e saltos frenéticos durante a dança”.(Landes, 1947:326).
No candomblé de caboclo são cultuados espíritos dos Índios e Boiadeiros, e outros "encantados" brasileiros que são considerados emanações dos Orixás pelos praticantes do candomblé . São caracterizados pela comunicação verbal e pela proximidade de contato com o público que freqüenta os terreiros, são procurados por seu poder de cura e pela disposição em ajudar os necessitados. O caboclo é uma entidade espiritual presente em todas as religiões de matrizes africanas - candomblé, xangô, tambor de mina, batuque e umbanda. "O termo candomblé de caboclo teria surgido na Bahia entre o povo-de-santo ligado ao candomblé de nação quetu, originalmente pouco afeito ao culto de caboclo, justamente para marcar sua distinção em relação aos terreiros de caboclos." (Prandi, 2001:121)
Historicamente o candomblé de caboclo foi instalado por uma mãe-de-santo, da tradição Nagô, chamada Silvana que alegava ter visões dos antigos índios brasileiros. A antropóloga Ruth Landes registrou um diálogo com a famosa sacerdotisa cabocla, no qual ela explica seu culto:

"A senhora deve saber dessas coisas. Esse templo é protegido por Jesus e Oxalá e pertence ao Bom Jesus da Lapa. É uma casa de espíritos caboclos, aos antigos índios brasileiros, e não vem dos africanos Iorubá ou do Congo. Os índios da mata mandam os espíritos deles nos guiar, e alguns são espíritos de índios mortos a centenas de anos. Louvamos primeiro os deuses Iorubás nas nossas festas porque não podemos deixá-los de lado; mas depois salvamos os caboclos porque foram os primeiros donos da terra em que vivemos. Foram os donos e portanto são agora nossos guias, vagando no ar e na terra. Eles nos protegem." (Landes, 1947:196)

Nota-se no candomblé de caboclo a predominância dos elementos do candomblé Angola, como o toque dos atabaques com as mãos (enquanto nas tradições Iorubás, o toque é feito com baquetas de madeira) e as cantigas em português. O culto caboclo é praticado paralelamente ao culto dos Orixás, criando uma interdependência entre os dois cultos.
Com o relaxamento dos dogmas nagocráticos os homens passaram a participar ativamente dos cultos, até então de exclusividade feminina. Ruth Landes escrevendo sobre o assunto afirmou que a maior parte dos líderes e fiéis desses cultos "são notórios homossexuais passivos, malandro e vagabundos de rua", o fato de que essas barreiras tenham caído para os homens não derrubaram o princípio fundamental de que somente a feminilidade pode servir aos deuses "quanto se 'faziam' filhos, eram eles homossexuais, que, a despeito de seu status, eram os únicos “femininos” (Landes, 1947:327).
Uma das figuras mais notórias na transformação do candomblé foi o Pai de Santo baiano João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Goméia (Tata Londirá), foi a figura mais polêmica do candomblé brasileiro e grande responsável pela difusão do candomblé na região sudeste do Brasil. Certamente por expor sua homossexualidade e flexibilizar as regras ortodoxas da vida religiosa entrando em conflito com o matriarcado baiano no candomblé em meados dos anos 60. João Alves ficou famoso por se travestir em espetáculos no morro da Urca no Rio de Janeiro, e também por levar as roupas ritualísticas do culto para os bailes de carnaval e boates da época. Tornou-se um Pai-de-santo famoso e respeitado, apesar de praticar um candomblé sincrético, onde as influências banto foram quase todas substituídas pelas iorubanas, resultando em grandes perdas nas raízes religiosas e culturais da “nação” Angola, o ramo banto do candomblé brasileiro. A maioria dos grandes terreiros do sudeste são orgulhosos em dizer que sua raiz é a "Goméia", nome que é considerado uma grife do candomblé.
Existem várias explicações para a notória presença e liderança dos homossexuais nos cultos de matriz africana. Gisele Binnon Cossard, (Omindarewá) mãe-de-santo e antropóloga, em entrevista a revista Planeta (edição especial n. 9 - 1986) declarou que não gosta de acolher homens em seu terreiro, "em geral são homossexuais e trazem muitos problemas. A beleza das roupas e dos enfeites aplaca as necessidades estéticas que eles têm, e além de tudo isso lhes dá um certo cartaz. É por esses motivos que tantos homossexuais procuram o candomblé" - convém ressaltar que Gisele Cossard foi iniciada por Joãozinho da Goméia.
A presença dos homossexuais no culto é explicada por diversos estudiosos. Um dos motivos é pelo detalhismo dos rituais, para os quais diz-se que os homossexuais são mais cuidadosos, "outra interpretação dada para a presença das “bichas” nos cultos era que elas são mais artísticas do que os homens e as mulheres e, portanto, mais bem dotadas para organizar e participar dos rituais" (Fry, 1982:71); além de os sacerdotes e sacerdotisas dos cultos serem mais complacentes em relação a opção sexuais dos membros, não adotando em suas casas-de-santo a rigorosa moral católica, "em muitos terreiros essa crença numa total separação entre a vida no santo e a vida do pecador legitima o que parece ser, para as pessoas estranhas ao culto, uma liberdade sexual bastante ampla dentro de regras previamente traçadas. As únicas restrições que o culto impõe sobre a sexualidade são as atividades sexuais antes e depois dos rituais, e não o tipo de atividade sexual, nem o sexo das pessoas envolvidas" (FRY, 1982:70). A hierarquia dentro das casas de candomblé, indistinta à opção e ao comportamento sexual (heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou transgêneros), proporciona aos participantes, em relação ao tempo de iniciação, respeito e status dentro das comunidades religiosas, posição essa que dificilmente seria atingida numa sociedade preconceituosa como a que vivemos. "Assim, entre o povo de santo, orientações sexuais como o homossexualismo ou o bissexualismo, a busca por prazer sexual, a licenciosidade, a jocosidade, entre outros aspectos, não são vistas sob um prisma exclusivo da moralidade cristã". (SILVA, 2002:168).
No candomblé, a homosexualidade não é considerada uma amoralidade. A religião tem em muitos dos seus mitos, deuses que possuem os dois sexos como Logunede, Orixá que vive durante seis meses como homem e durante outros seis como mulher. Há também Orixás hermafroditas, como o famoso Oxalá, que por ser o orixá da criação, tem domínio sobre todos os gêneros sexuais. Atualmente a presença e liderança dos homossexuais no culto ainda é maciça apesar de ocorrer, durante meados de 2003, uma grande demanda de homossexuais que adotaram novas religiões neo-pagãs como a Wicca, de origem européia.

Bibliografia Utilizada nas pesquisas


Bastide, Roger. O Candomblé da Bahia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.
Fry, Peter. Para Inglês Ver. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
Junior, Eduardo Fonseca. Dicionário Yorubá Português. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
Landes, Ruth. Cidade das Mulheres. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1974.
Prandi, Reginaldo. Encantaria Brasileira. Rio de Janeiro: Pallas, 2001.
Prandi, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Prandi, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo. São Paulo: EDUSP, 1991.
Carneiro, Edson. Candomblés da Bahia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
Ramos, Arthur. A Aculturação Negra no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca Pedagógica Brasileira, 1942.
Silva, Vagner Gonçalves. Caminhos da Alma, memória afro-brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2002.
Verger, Pierre. Notas sobre os cultos aos Orixás e Voduns.Salvador: Corrúpio,1989.

Créditos das Fotos
1 -Yawo - de José Medeiros
2 -Tata Gombe T.U. Sta Catarina - Arquivo do Autor
3 - Iniciação de jovem muzenza masculino (Goméia) - Arquivo do Autor
5 - Joazinho da Goméia travestido de Arlete - http://portal.marccelus.com/foiotempo.html

quarta-feira, 20 de junho de 2007

A Mesmice e o Tempo (ou Crônica do Todo-Poderoso)


“ Ilusão, ilusão. É tudo ilusão.
Que proveito tem o homem do trabalho que o cansa debaixo do sol?
Geração vai e gerração vem; mais a Terra permanece sempre a mesma.
Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta a seu lugar, onde nasce de novo.
O vento vai para o sul e faz seu giro para o norte; volve-se; e revolve-se, na sua carreira, e retorna aos seus circuitos.
Todos os rios correm para o mar, e o mar não se enche ; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr.
Todos as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir; os olhos não se fartam de ver; nem se enchem os ouvidos de ouvir.
O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, nada novo debaixo do sol.
Há alguma coisa que se possa dizer: Vê! Isto é novo!? Não! Já foi nos séculos que se forma antes de nós.
Já não há lembrança das coisas que nos precederam, e das coisas posteriores também não haverá memória entre os que hão de vir depois delas.
Atente para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que era tudo ilusão e correr atrás do vento.
Aquilo que é torto não se pode endireitar; e o que falta não se pode calcular."



“Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arracam o que se plantou.
Há tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar.
Tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria.
Tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras. Tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar.
Tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora..
Tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar.
Tempo de amar e tempo de aborrecer, tempo de guerra e tempo de paz.”


(O sábio ou Livro de Eclesiastes)
Foto: (c) Rafael Vertuan

segunda-feira, 18 de junho de 2007




Tambor de Crioula - Patrimônio Imaterial Nacional

A dança afro-brasileira Tambor de Crioula foi reconhecida hoje como Patrimônio Cultural do país.

O Tambor é uma dança praticada pelos descendentes dos escravos que viviam no Maranhão. Os frenéticos e sonoros tambores juntamente com a dança em círculo que lembra o Candomblé celebram a liberdade e a alegria dos negros. A coreografia principal é a "Punga" ou "umbigada". A punga é praticada pelas mulheres, dando a dança um toque de bom humor e sensualidade.
O nome "Tambor de Mina" é uma referência aos instrumentos de percussão utilizados no culto Mina-Jêje, originário do antigo Reino do Daomé.


Os canticos celebram a vida, o trabalho e o cotidiano. O tambor é uma dança utilizada para a diversão, mas o sentimento religioso negro sempre presente homenageia São Benedito, padroeiro dos negros no Maranhão, sincretizado com o Vodun daomeano Toi Averequete.

Conexão África - Tibet



Perceba como a cultura dos países em desenvolvimento são similares. O fenômeno de transe por possessão é comum no Tibet, na África e no Brasil. Os tibetanos herdaram a prática de comunicação com os espíritos das antigas culturas xâmanicas tibetanas, que tiveram seu auge no periódo pré-budista. O fetichismo índigena tibetano era conhecido como Bön. Posteriormente a cultura Bön foi absorvida pelas escolas budistas, deixando apenas sua influência: o panteão das divindades coléricas (ou iradas), a prática do curandeirismo, a mediunidade, entre outras.


Nesta foto o médium tibetano Duldzin Kuten Lama, está em transe com uma controversa entidade tibetana chamada Dorje Shugden.


Esta entidade foi "banida" pelo 14o. Dalai Lama que acredita que este espírito é prejudicial para sua saúde e para a causa da libertação do Tibet e defendida por outros sacerdotes tibetanos como Geshe Kelsang Gyatso e Gangchen Rimpoche.


Esta controvérsia gerou um dos grandes "rachas" do budismo contemporâneo: pela primeira vez o Dalai Lama, Nobel da Paz de 1989 foi acusado de violação dos direitos humanos pelos devotos de Shugden.


(Foto: Dalai Lama e o Sacerdote Vodun Daagbo Hounan)

domingo, 17 de junho de 2007

A África é Aqui

Omolú, Obaluaiye (Keto) , Shapanan(Jeje), Kaviungo, Insunbu (Angola-Kongo).

É o deus das doenças contágiosas e da saúde dos africanos.É o dono da terra . Segundo os mitos brasileiros, Obaluaiye era filho de Nanã Burukê, que ao deparar com sua deformidade física (lepra) o abandona jogando-o no mar, morada da grande Mãe Yemanjá.
Yemanjá, a bondosa e protetora Orixá cria Obaluaiye, que quando adulto aprende o segredo da vida, da morte e dos mortos (eguns).

(Foto : (c) Kaviungo - Candomblé Angola (Goméia)
T.U. Santa Catarina - Jundiaí-SP

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